“Quem tem ouvidos, ouça.”

Por Emanuel Jr. (Advogado, professor, Presidente da UNIJUC)

“Quem tem ouvidos, ouça”. Esse é um brocardo, digamos assim, muito antigo e até bíblico. Podemos hoje entender que essa expressão se dá justamente para pessoas que estão tão imersas em suas ideologias que não conseguem seguir a lógica mais clara. Eles não têm mais ouvidos. Não ouvem, seja lá o que for dito, se não os agradar e for a favor de sua ideologia.

Esse é um comportamento que observamos atualmente, onde a adesão a uma ideologia pode influenciar profundamente a maneira como as pessoas percebem e processam informações.

​Essa observação reflete um fenômeno conhecido como viés de confirmação. Ele descreve a tendência humana de buscar, interpretar e favorecer informações que confirmem suas crenças ou ideologias pré-existentes, enquanto se ignora ou desconsidera evidências que as contradizem. Em outras palavras, a pessoa só “ouve” o que já acredita ser verdade.

Em um mundo com um volume enorme de informações e diferentes pontos de vista, o viés de confirmação pode levar a uma polarização desnecessária e dificultar o debate construtivo. A expressão serve, nesse contexto, como um lembrete da importância de estar aberto a diferentes perspectivas, mesmo que elas desafiem as próprias convicções.

Essa percepção de mundo vem aumentando cada dia mais justamente devido ao volume de informações e à “bolha” que ser cria nas redes sociais ao só ouvir, ver e ler o que está de acordo com o que pensa devido ao algoritmo.

Esse fenômeno de só entender o que já se acredita, de não ter ouvidos para ouvir, impulsionado pelos algoritmos das redes sociais e outras plataformas digitais, amplifica o viés de confirmação.

​Em vez de expor as pessoas a uma variedade de ideias, esses algoritmos criam “câmaras de eco”, as famosas “bolhas”, onde o indivíduo é constantemente bombardeado com conteúdo que valida suas crenças existentes. Isso pode levar a uma espiral onde a ideologia se fortalece e o pensamento crítico se enfraquece.

A analogia de “não ter mais ouvidos” se torna particularmente relevante nesse contexto. O acesso a informações diversas e a abertura para ouvir outros pontos de vista não são garantidos apenas pela abundância de dados, mas exigem uma atitude proativa para buscar e considerar o que está fora da própria bolha.