Os desafios dos católicos em um mundo majoritariamente humanista.

Por Emanuel de Oliveira Costa Jr. (Presidente da UNIJUC, advogado e professor)

INTRODUÇÃO AO PROBLEMA.

Ao analisar a situação atual, temos que hoje os fiéis católicos vivem em um mundo humanista, mas com uma fé e uma estrutura eclesial teocrática e teocêntrica. Afinal, assim é a doutrina católica: teocêntrica e teocrática. Isso causa alguns prejuízos no entendimento da fé por parte dos católicos.

Ao afirmar que os fiéis católicos vivem em um mundo humanista apenas faço uma reflexão sobre o que se vê, sem necessitar de aprofundar muito nos termos, muito menos buscar dados estatísticos sobre o assunto. Trata-se apenas de verificar a realidade e tirar conclusões. O mundo vive atualmente sob conceitos humanistas pelo simples fato de que o homem está no centro e não Deus como era em outros períodos ou ainda é em outras civilizações como no caso do islamismo.

Por outro lado, o católico tem uma fé e uma estrutura eclesial teocrática e teocêntrica imersa nesse mundo humanista. Isso reflete um dilema cultural e espiritual contemporâneos. São conflitos inevitáveis e crises de identidade que são gerados diariamente.

O humanismo atual enfatiza a centralidade do ser humano, a autonomia da razão e a liberdade individual, enquanto a fé católica e a estrutura da Igreja estão enraizadas em princípios teocêntricos, que colocam Deus no centro da existência e da moralidade. Esse contraste pode gerar algumas tensões e prejuízos na vivência da fé.

 

  1. Confusão Doutrinária.

Muitos fiéis, talvez a maioria, têm dificuldade em compreender os ensinamentos da Igreja, pois estão constantemente expostos a valores e princípios seculares que podem divergir da doutrina cristã. Essa exposição constante é um fato inegável. Exemplos disso incluem debates sobre ética sexual, o papel da religião na política e questões de bioética. Todos esses temas, causam um verdadeiro caos na cabeça da grande maioria dos católicos que simplesmente não tem formação suficiente pra entender, debater e chegar a conclusões simples sobre esses assuntos, quanto mais a conclusões mais complexas.

A Doutrina católica passa a ser um contrassenso com o mundo em cada vez mais temas. Tudo à volta dos católicos tem uma concepção enquanto que a doutrina católica tem outra. Isso causa prejuízos enormes no entendimento uma vez que os católicos são alvejados diariamente com questões que atingem frontalmente sua fé.

 

  1. Relativismo Moral

O humanismo moderno, frequentemente (ou quase sempre) é influenciado pelo relativismo, e isso pode levar, e realmente leva, alguns fiéis a questionar ou reinterpretar verdades absolutas da fé católica, criando uma crise de identidade religiosa.

A própria palavra “moral” já vem sendo, há décadas, destruída em seu conceito mais puro. O moralista não é mais aquele que estuda moral, mas sim aquele que tem uma moralidade tacanha, anacrônica, atrasada e afastada da realidade. O casamento, a fidelidade, a ombridade, a família e até o “gênero” é algo relativizado. A crise de identidade, especialmente com os mais novos, é inevitável.

 

  1. Individualismo X Comunhão

O foco humanista no individualismo entra em conflito com a dimensão comunitária da Igreja, que enfatiza a comunhão eclesial e a solidariedade.

Quando falamos em individualismo, não falamos em pessoas que não fazem caridade ou não pensam além de si mesmas (apesar de que cresce assustadoramente o número de pessoas que já passou do conceito de egoísmo e já estão na autorreferência), mas sim em pessoas que não entendem que nem tudo precisa de contrapartida. Caridade não se trata de dar coisas a alguém, mas sim de lutar para que cada um tenha o que precisa para viver lembrando que em cada um será encontrada uma necessidade diferente do outro.

 

  1. Desconexão Litúrgica e Espiritual

Muitos fiéis podem se sentir desconectados de práticas litúrgicas e sacramentais que exigem uma visão teocêntrica, como a adoração eucarística ou a confissão, por não compreenderem plenamente seu significado em um contexto teológico.

A grande maioria dos católicos hoje em dia não sabem o que é o sacrifício da missa. Não compreendem a dimensão do sacrifício, porque não querem ou não podem entender a dimensão do sofrimento. Não buscam sair de si mesmos para entender o transcendente, mas sim buscam que Deus os entenda dentro das suas necessidades, não importando o que a perfeição de Deus entendeu desde a eternidade. Sequer têm a consciência de eternidade.

 

  1. Desafios à Transmissão da Fé

Os pais e educadores católicos enfrentam dificuldades para transmitir a fé às novas gerações em um ambiente cultural que costuma sempre apresentar valores contrários à tradição católica.

Aqui tratamos especificamente de pais e educadores que pelo menos tentam transmitir essa fé de geração em geração, uma vez que um número muito grande sequer tenta fazer essa transmissão e um percentual também muito representativo pretende fazer o contrário, ou seja, destruir essa transmissão, interromper o que vem sendo feito há milênios.

Os desafios para a transmissão da fé são de tamanha enormidade em um mundo em que o humano está no centro e que relega Deus a escanteio, ou sequer o relega a nada, sendo indiferente, o que é pior ainda, que as novas gerações chegam à idade adulta perdidas em relação à fé e com um entendimento eclesial e da fé infantis.

 

Estratégias para Mitigar os Prejuízos.

Na tentativa de mitigar os prejuízos, algumas soluções podem ser propostas, contudo nada pode ser considerado absoluto, porque a variedade de problemas é tão grande que “receitas de bolo” são inúteis e até indesejáveis.

Temos, contudo, algumas manobras à frente:

A primeira delas é repensar a catequese. A chamada Catequese Renovada, que nas décadas de 80 e 90 do século XX fizeram muito sucesso, nunca respondeu de forma gratificante aos desafios propostos. Continuar por simples arqueologismo com a catequese dada há cem, duzentos ou mais anos atrás, não parece também ser a solução, contudo virar para o outro extremo com a chamada “catequese renovada” fez com que a transmissão da fé pela catequese se tornasse fraca, vazia e relativizada. A proposta é que tenhamos não uma catequese renovada, mas uma catequese redescoberta que possa enfatizar a importância de uma catequese que dialogue com os desafios contemporâneos, sem comprometer os princípios teocêntricos da fé, muito menos minorar a doutrina frente as exigências do mundo humanista atual.

A segunda proposta seria uma formação intelectual que possa proporcionar uma verdadeira formação que integre razão e fé, mostrando a compatibilidade entre um humanismo autêntico, se é que assim podemos expressar, e a visão cristã que tem Deus no centro a favor da salvação da humanidade.

Em terceiro lugar é preciso um testemunho prático para demonstrar como a fé católica pode enriquecer a vida humana em todos os seus aspectos, incluindo os desafios modernos. Que não se trata de uma concepção íntima e privada de Deus, muito menos de uma filosofia de vida pura e simples, como se não englobasse o ser humano de forma integral e não apenas nas suas particularidades.

 

CONCLUSÃO.

Esse contexto exige um esforço pastoral e teológico para ajudar os fiéis a integrar sua fé em um mundo marcado pelo secularismo, reafirmando a centralidade de Deus sem alienar a dignidade e a liberdade humanas promovidas pelo cristianismo, especialmente pela Igreja Católica que foi a instituição bimilenar que tornou possível temas como a dignidade humana se tornarem conceitos bem definidos.