O papel do cristão como jurista em tempos difíceis.

Marcelo Pereira Pinto Trindade.

(Secretário Auxiliar e Assessor Jurídico no Ministério Público de Goiás e Diretor de Relações institucionais e públicas  da UNIJUC.)

Rezemos para que todos aqueles que administram a justiça operem com integridade e para que a injustiça que atravessa o mundo não tenha a última palavra”. (Papa Francisco)

Em todos os lugares devemos, em primeiro lugar, ter a coragem de sermos vistos e reconhecidos como cristãos, haja o que houver. Ser cristão é ser sal da terra e luz do mundo (Mt. 5,13-14).

Uma das formas extraordinárias de exercer esse papel de cristão é dentro do mundo jurídico. Ser um jurista não é simplesmente ser detentor de um cargo vultoso, ser uma autoridade pública respeitável, ser um defensor imbatível e voraz dos direitos dos seus clientes ou um doutrinador renomado e conceituado. Ser jurista é ser um profissional que, além de se dedicar ao estudo diário da ciência jurídica, deve buscar a efetividade do direito, zelar pelo bom cumprimento da lei, colaborar e lutar por uma sociedade igualitária e defender a qualquer custo a justiça dentro de um Estado Democrático de Direito, tendo assim um papel fundamental na sociedade.

Infelizmente, nos últimos anos temos acompanhado pautas negativas no nosso país em detrimento da fé cristã. Podemos citar os diversos embates jurídicos traçados na luta contra a legalização do aborto, a liberdade religiosa, confusão entre Estado laico e ateísmo, imunidade tributária ou não de entidades religiosas, símbolos religiosos em espaços públicos, dentre outros.

Para combater essas pautas negativas, o cristão como jurista tem uma função essencial, devendo assumir o protagonismo dessa atuação jurídica dando temperança à justiça através da caridade e levando todas as coisas à luz axiomática. Mas para assumir esse papel, além de possuir vasto conhecimento jurídico, é necessário também, com o auxílio do Espírito da Verdade, ter uma coragem profética.

Para isso, podemos citar como exemplo, os ensinamentos sobre a vida ascética e mística, do Padre Garrigou Lagrange, que ressalta a importância de movermos nossas vontades na luta pela conversão pessoal através do crescimento na vida da graça, da união com Deus pela oração e da busca incessante pela perfeição cristã. Através desses passos é possível na prática sempre colocarmos Deus como princípio primeiro e fim último de todas as coisas, como sempre deveria ser em todas as áreas da nossa vida.

Sabemos que o verdadeiro cristão deve buscar incansavelmente a perfeição cristã em uma união plena com a Trindade Santa. É verdade que vivemos em tempos difíceis que nos faz relembrar os tempos de Sodoma e Gomorra, onde a iniquidade e a perversidade do seu povo eram incontroláveis e insaciáveis.

Mas não podemos perder a esperança, pois naquela época se Deus encontrasse ao menos dez homens justos pouparia e perdoaria toda a cidade em atenção a eles. Devemos perseverar e acreditar que Deus, na sua infinita misericórdia, quer fazer de nós hoje em dia esses homens e mulheres justos. Juristas que tenham a verdadeira coragem evangélica de defender aquilo que é reto, mesmo quando todos praticam o errado, e denunciar o errado, mesmo quando todos o fazem como politicamente correto, pois “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus!” (Mt. 5,10).

Por isso meus irmãos, não temam em sempre lutar pela Verdade e pela Justiça. Sejamos corajosos. Sejamos sal e luz no universo jurídico. Mesmo em tempos difíceis, sejamos verdadeiros juristas cristãos em todos os lugares, para honra e glória do nosso senhor Jesus Cristo.